O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (2) a aplicação de uma tarifa mínima de importação de 10% aos parceiros comerciais, taxa que pode ser ainda maior dependendo da relação entre as nações. A medida terá impactos em diversos produtos e países, incluindo os eletrônicos vendidos no Brasil, de acordo com especialistas.
Entrando em vigor no sábado (5), o “tarifaço de Trump”, como o movimento foi batizado, é considerado pelo republicano como uma mudança fundamental para fortalecer a indústria e o mercado de trabalho do país, contribuindo para que os EUA voltem a ser “ricos novamente”. No entanto, a guerra tarifária não foi bem recebida no exterior.
Além de fortes críticas da União Europeia (UE) e da China, a medida teve impactos imediatos na economia mundial, resultando em quedas consideráveis nas bolsas de valores — os papéis da Apple desvalorizaram mais de 9% em um dia. E com a promessa de retaliação, a crise pode se tornar ainda maior.
Tem dúvidas sobre o que está acontecendo? O TecMundo preparou um resumo sobre as medidas anunciadas por Trump e os seus impactos na tecnologia. Confira as informações a seguir.
O que é o “tarifaço” de Donald Trump?

A ação tomada pelo republicano representa um conjunto de tarifas comerciais impostas aos produtos que chegam aos EUA oriundos de outros países. Segundo Trump, trata-se de uma resposta aos parceiros comerciais que aplicam taxas superiores aos itens fabricados no território americano.
Foram criados dois tipos de sobretaxas pela nova administração federal americana. A mais básica, chamada tarifa abrangente, é fixada em 10% e aplicada a todos os parceiros comerciais da Casa Branca, tendo passado a valer no sábado (5).
Já a tarifa recíproca será aplicada a partir da próxima quarta-feira (9) aos países que taxam os produtos americanos em mais de 20%. Neste caso, o valor não é necessariamente de igual para igual, já que o cálculo leva em conta uma fórmula diferenciada.
A princípio, acreditava-se que a taxação por país havia sido definida levando em conta tarifas existentes e regulamentações, entre outros fatores. Trump chegou a exibir, durante o anúncio, uma tabela de papelão mostrando exemplos de tarifas aplicadas a determinados países.
Mas posteriormente, o governo revelou a fórmula usada para determinar os percentuais para cada parceiro comercial. Ela leva em conta o déficit comercial dos EUA em relação ao país, dividido pelo total de importações de bens dessa nação, com o resultado sendo dividido por dois.
Quais países foram afetados?

No total, o tarifaço de Trump afeta mais de 180 países e territórios, com as taxas variando de um local para o outro, como explicamos anteriormente. No caso do Brasil, os produtos fabricados por aqui e exportados para os EUA serão taxados em 10%.
Arábia Saudita, Austrália, Argentina, Colômbia, El Salvador, Singapura, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido são alguns dos outros países com o mesmo índice mínimo. Por outro lado, os vizinhos Canadá e México não entraram no tarifaço, pois fizeram outro tipo de acordo com a Casa Branca.
Já a lista dos países que receberão a tarifa recíproca inclui até mesmo alguns aliados mais próximos dos EUA. A União Europeia, por exemplo, terá uma tarifa de 20%, enquanto o Japão será taxado em 24%, a África do Sul em 30%, Taiwan em 32%, Tailândia em 36%, Vietnã em 46% e a China em 54%.
Embora Trump tenha dado um desconto, afirmando que cobrará 50% do que os mercados incluídos nas tarifas recíprocas taxam os produtos americanos, a medida foi bastante criticada. O governo australiano comentou que a taxação não é atitude de uma nação “amiga”.
Por sua vez, os líderes da UE trataram a medida como um “grande golpe para a economia mundial”. O bloco disse estar preparado para negociar uma solução, mas não descarta retaliar, se necessário, mesmo que isso prejudique os consumidores europeus — a reciprocidade pode ser direcionada a empresas e não a setores.
Quem também respondeu à guerra tarifária foi a China. Após o anúncio em Washington, Pequim decidiu cobrar taxas adicionais de 34% sobre todos os produtos americanos a partir de quinta-feira (10), além de impor restrições às exportações de metais terras-raras e adicionar empresas dos EUA a uma lista de marcas não confiáveis.
Como o tarifaço vai afetar o mercado de tecnologia?

As tarifas impostas por Trump vão afetar em cheio as empresas de tecnologia com cadeias longas e complexas, como a Apple, segundo o especialista em inovação e tecnologia, Arthur Igreja. As grandes marcas que dependem dos componentes fabricados na Ásia deverão ser as principais impactadas.
De acordo com ele, diversas big techs se voltaram para aquela região em busca de vantagens competitivas, como a mão de obra mais barata, porém não incentivaram o consumo local. Com a taxação e a retaliação chinesa, as peças fabricadas por lá ficarão mais caras, influenciando os preços de itens nos EUA e em outras partes do planeta.
“Um iPhone que já vinha sofrendo para manter seu nível de performance nos Estados Unidos vai ficar inevitavelmente mais caro. Isso traz um cenário ainda pior para países como o Brasil, porque tem toda a questão cambial e tributária. E produtos que voltariam para a China também são tributados”, afirmou Igreja, em entrevista ao TecMundo.
Ele também acredita que o tarifaço pode levar a uma desaceleração do comércio global, cuja previsão inicial era de crescimento de 3% este ano. No entanto, estimativas atualizadas já apontam a possibilidade de retração de pelo menos 1%, ou quatro pontos de queda.
O CEO da Bravo, Marcos Gimenez, lembra que o iPhone também tem parte da produção na Índia, taxada em 26%, além da China, e que o custos serão repassados ao consumidor final nos EUA. Dessa forma, é possível que a produção não absorvida seja repassada para outros países, ampliando a oferta em mercados emergentes.
Falando à reportagem, o executivo ressaltou, ainda, que as “Sete Magníficas”, grupo formado pelas maiores empresas de tecnologia americanas, já “tiveram perdas bilionárias no mercado financeiro desde o anúncio do tarifaço”. Isso inclui a dona do Google (Alphabet), Apple, Microsoft, Nvidia, Meta, Amazon e Tesla.
Quais serão os impactos no Brasil?

Em relação ao Brasil, itens como celulares, notebooks e periféricos, entre outros importados dos Estados Unidos, podem ficar mais caros se os custos forem repassados ao longo da cadeia. Conforme Igreja, a elevação nos preços deve acontecer mesmo com o país tendo recebido a tarifa mínima e ainda não adotado uma retaliação.
Para ele, o enfraquecimento do dólar até poderia resultar em algum alívio nos preços, mas a retaliação chinesa deve mudar o cenário. O especialista também lembra que a participação do Brasil no comércio exterior é baixa, porém isso não fará com que o país deixe de sentir os impactos do tarifaço.
“Com todo mundo subindo muros, todos os custos aumentam, justamente por não usar esse conceito das vantagens competitivas. Tudo se encarece e no caso do Brasil isso é uma bola de neve. E somos mais impactados ainda”, explicou.
Por outro lado, existe a possibilidade de que concorrentes dos EUA aproveitem a guerra tarifária para aumentar a oferta, ampliando sua presença no mercado, como destaca o gerente de tecnologia da Bravo, Hugo Botega. Assim, não se descarta algum tipo de benefício para o Brasil.
“Se houver uma diminuição do consumo de componentes de tecnologia pelos Estados
Unidos devido ao aumento dos custos associados à importação, é possível que a
produção excedente resultante da diminuição do consumo por este mercado precise
ser redistribuída, diminuindo os custos para a indústria nacional pelo aumento da
oferta”, apontou Botega.
E você, o que pensa sobre o tarifaço de Trump? Acredita que os produtos de tecnologia ficarão mais caros, baratos ou nada irá mudar? Deixe seu comentário nas redes sociais do TecMundo.
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