Trabalhar 17 horas por dia, sem direito a feriados e com metas a bater, podendo ser proibido de almoçar, espancado e sofrer outras punições se não cumpri-las. Assim é a rotina das pessoas mantidas em regime quase de escravidão na KK Park, uma das centrais de fraudes online de Mianmar, da qual dois brasileiros escaparam esta semana.
Como relata a DW nesta sexta-feira (14), a instalação que parece uma mistura de fábrica e prisão fica em Mae Sot, na fronteira entre Mianmar e Tailândia. O complexo começou a ser erguido em 2020 e já tem quatro vezes o tamanho de quando foi aberto, como mostram imagens de satélite atualizadas.
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O golpe do “abate de porco” é uma das especialidades da casa. Neste tipo de fraude, as vítimas são manipuladas emocionalmente para investir grandes quantias em criptomoedas, por falsos parceiros românticos conhecidos nas redes sociais ou apps de mensagens, podendo ter sérios prejuízos financeiros.
São as pessoas mantidas como reféns na KK Park que atuam como os trapaceiros online no Facebook, Instagram e WhatsApp, entre outras plataformas, buscando alvos vulneráveis. Segundo a publicação, elas são obrigadas a conquistar um número mínimo de clientes ou uma determinada quantia por semana para que não sejam punidas.
Quem está por trás dos golpes online em Mianmar?
De acordo com a reportagem, as fábricas de fraudes online da região possuem ligação com um conhecido chefe da máfia chinesa, como apontam o rastreamento de pagamentos feitos com as criptomoedas das vítimas. Trata-se de Wan Kuok Koi, ex-líder da tríade 14K.
Também conhecido como “Broken Tooth”, ele fundou uma nova organização em 2018, chamada World Hongmen History and Culture Association, submetida a sanções pelos Estados Unidos devido ao envolvimento com o crime organizado.
![kk-park-golpes-online-1.jpg](https://tm.ibxk.com.br/2025/02/14/14133321248138.jpg)
Já a segurança da instalação fica a cargo da Força de Guarda Fronteiriça, formada por ex-rebeldes de Mianmar. O local é cercado por soldados armados e conta com câmeras de vigilância em diversas partes, monitorando o que os reféns fazem durante todo o dia.
Cerca de 100 mil pessoas estariam confinadas nas centrais do crime online de Mianmar, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). A KK Park é uma das pelo menos 10 fábricas semelhantes em funcionamento na região fronteiriça com a Tailândia.
Falsas ofertas de emprego
As vítimas de tráfico humano mantidas em regime de quase escravidão em KK Park chegaram lá após serem enganadas por falsas ofertas de emprego divulgadas principalmente por meio do Telegram. Em geral, elas acabam sequestradas durante a entrevista de emprego.
Levadas para a instalação, são forçadas a trabalhar na aplicação dos golpes online e constantemente ameaçadas de morte. Foi o que aconteceu com os brasileiros Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Ferreira, mantidos em cárcere privado por cerca de três meses.
Eles fugiram junto com outras centenas de imigrantes detidos no local, com ajuda da ONG The Exodus Road, e agora estão na Tailândia. O retorno ao Brasil deve acontecer nos próximos dias, mas a entidade informou que outros oito brasileiros ainda trabalham para a quadrilha das fraudes online.
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