Entre as várias empresas de telefonia fixa, móvel e internet que operaram no Brasil nas últimas três décadas, um nome marcou vários estados pela forte presença em cobertura, a grande base de clientes por toda a América Latina e a oferta variada de serviços. É a Telefônica, um grupo nascido na Espanha, mas com grande identificação com o nosso país.
Ao longo dos anos, entretanto, esse nome foi ficando para trás até se tornar mais raro de ser visto em serviços, na imprensa ou até em conversas. Mas será que ela realmente deixou de existir ou apenas passou a atuar sob outra identidade mais popular?
O que aconteceu com a Telefônica? Dando sequência à série “Que fim levou?”, o TecMundo relembra a trajetória dessa empresa de telefonia que rapidamente se tornou um dos nomes mais fortes de um setor tão importante.
As origens da Telefônica
A trajetória dessa empresa tem na verdade dois inícios. Um deles é o do grupo estrangeiro Telefónica, que é o conglomerado original que se estabeleceu em vários países. O segundo é o das operações dele no Brasil, em uma história com várias particularidades.
A companhia original nasce em 1927 em Madri como Compañia Telefónica Nacional de España (CTNE). Após vinte anos de operação, o Estado passa a controlar a maior parte das ações da operadora, e na década de 1960 ela já era uma das maiores empresas de todo o país.

Ela foi pioneira na região em fornecer chamadas via satélite e também telefonia móvel, na marca que se tornaria a poderosa Movistar. Ela ainda expandiu para outro países de língua espanhola, incluindo a Argentina.
No Brasil, as atividades oficialmente começaram em 1996. Foi nesse ano que ela estabeleceu um consórcio com outras empresas para adquirir a Companhia Riogrande de Telecomunicações, a primeira estatal do setor privatizada no país. Mas esse passo pode ser considerado pequeno perto do que ainda estava por acontecer.
A origem brasileira da Telefônica se confunde com a história de outra empresa de telefonia. É a Telecomunicações de São Paulo, ou Telesp, uma companhia estatal que fazia parte do sistema federal Telebras de operadoras e atuava a nível estadual. Essa companhia oferecia desde 1973 telefonia fixa e outros serviços, mas a situação mudou radicalmente na segunda metade da década de 1990.

- Saiba mais: Que fim levou a Telesp, a antiga operadora de telefonia fixa e móvel do estado de São Paulo?
Esse foi o período em que o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu privatizar várias estatais, inclusive o sistema Telebras. As companhias foram fragmentadas de acordo com a região atendida e leiloadas para interessados em adquirir a infraestrutura e os serviços já oferecidos.
Por na época R$ 5,7 bilhões, a Telefónica foi a vencedora e passou a controlar os antigos ativos da Telesp, além de rebatizá-la. Para regionalizar o nome, por aqui o grupo ficou conhecido como Telefônica, com acento circunflexo na letra "o" no lugar do acento agudo. Junto da Telesp e da empresa do sul, ela ainda conseguiu arrematar outras duas operadoras para atuar em Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe.
A Telefônica enche o carrinho
Já estabelecida, a Telefônica se notabilizou por campanhas publicitárias como o Super 15, um super-herói que representava as chamadas rápidas e de longa distância oferecidas, e serviços com nomes consagrados — caso do Speedy, a internet banda larga via ADSL que nasceu em 1999.
O alcance dela também cresceu: a marca começou presente em mercados importantes do país, mas depois passou a oferecer serviços nacionalmente e expandir o catálogo de produtos. Boa parte disso foi possível graças a uma série de aquisições feitas pelo grupo, com destaque para as seguintes compras:
- 2000 — 51% do portal gaúcho ZAZ, que virou o Terra
- 2006 — metade (e depois a totalidade) da empresa de televisão a cabo TVA;
- 2010 — todas as ações da operadora de telefonia celular Vivo;
- 2015 — a operadora paranaense GVT;
- 2017 — a Terra Networks, grupo que se separou após a compra original do ZAZ;
Da lista, a aquisição mais importante foi a da Vivo. O caso na verdade é mais antigo: a Telefónica e a Portugal Telecom criaram a marca em 2003 por meio de uma parceria com controle dividido, mas o grupo espanhol adquiriu uma parcela maior da empresa por cerca de R$ 17,2 bilhões.
Já os portugueses foram para a concorrência: eles fecharam a fusão com a Oi, que seria uma das grandes rivais da Vivo por anos em vários segmentos de telecomunicações.
A Telefônica ainda existe?
A Telefônica do Brasil segue em operação até os dias de hoje: ela ainda existe sob esse mesmo nome, como razão social (o nome oficial de uma empresa, registrado em órgãos do governo) do braço nacional do conglomerado Telefónica. Praticamente todos os produtos, porém, acabaram ganhando outros nomes por causa da compra mais famosa.
A partir da incorporação da Vivo, uma série de mudanças começam a ocorrer. Em 2011, a razão social da companhia muda finalmente de Telecomunicações de São Paulo S.A. para Telefônica Brasil S.A. Já a marca comercial foi alterada em 2012: o nome Vivo passa a ser utilizado no Brasil para os serviços de telefonia fixa e móvel, banda larga e TV por assinatura. Na reestruturação, todos o serviços da Telefônica foram rebatizados para nomes como Vivo Speedy, Vivo Fixo e Vivo TV (a antiga TVA).

No fim de 2024, começou a se desenhar o encerramento de um importante capítulo dessa história: o governo aprovou o fim da concessão do serviço público de telefonia fixa da empresa, que passará a um regime privado com serviços a regiões limitadas por quatro anos, além de investimentos em outros segmentos, como o de fibra óptica.
Você já conhecia a história da Telefônica e quer saber por onde anda outra operadora popular de anos anteriores no Brasil? Então confira o artigo do TecMundo sobre a trajetória da NET.