Populares na era pré-smartphone, os pagers voltaram ao noticiário em setembro de 2024 quando explosões simultâneas desses dispositivos mataram dezenas de pessoas e deixaram outras milhares feridas no Líbano. O incidente pegou muita gente de surpresa ao descobrir que o equipamento continua em uso, mesmo com as facilidades oferecidas pelos smartphones.
Também chamado de “bipe” pelos usuários brasileiros da tecnologia nos anos 1980 e 1990, que geralmente o carregavam preso à cintura, esse pequeno aparelho usa frequências de rádio para enviar e receber mensagens. Ele pode ser considerado o “avô” do SMS ou, ainda, o "bisavô" do WhatsApp.
Em seu auge, o pager teve 60 milhões de usuários em todo o mundo, a maioria aproveitando a tecnologia profissionalmente e para enviar mensagens urgentes. Médicos, enfermeiros e executivos eram o público-alvo de marcas como a Motorola, que dominava este mercado, mas o produto também virou febre entre os adolescentes.
Apesar da queda expressiva no número de usuários, ele continua sendo utilizado em plena era dos smartphones. Saiba um pouco mais sobre que fim levou o pager, a seguir!
Como surgiu o pager?
![A Motorola foi uma das principais fabricantes de pagers. (Imagem: Getty Images/Reprodução)](https://tm.ibxk.com.br/2024/12/31/31182816518000.jpg?ims=328x)
Os pagers se tornaram populares a partir da década de 1980, mas a sua invenção aconteceu bem antes. Um sistema de comunicação sem fio parecido surgiu nos anos 1920, no Departamento de Polícia de Boston (EUA), a partir da parceria entre um patrulheiro e um estudante de engenharia.
Esse dispositivo de rádio de transmissão unidirecional — só recebia mensagens — foi instalado em carros da patrulha local em 1928, mas a primeira patente veio em 1949. O pioneiro da comunicação móvel, Alfred J. Gross, registrou um equipamento destinado aos médicos, gerando reclamações por causa do bipe emitido por ele.
Na década seguinte, já existia um serviço de assinatura de pager em Nova York (EUA) que custava US$ 12 mensais (R$ 74 pela cotação atual) e recebia mensagens a até 40 km de distância. O aparelho continuou evoluindo e combinou elementos das tecnologias de walkie-talkie e rádio automotivo nos anos 1960.
Mas foi na década de 1970 que o sistema cresceu de vez, com a Motorola lançando novos aparelhos, incluindo a primeira versão com tela LCD, capaz de exibir mensagens de texto curtas. Também chegaram opções bidirecionais, que recebiam e enviavam mensagens, e outras compatíveis com voz.
A geração seguinte, nos anos 1980, ganhou as redes de longa distância, que possibilitavam transmitir mensagens via ondas de rádio entre países. A novidade permitiu um grande salto na quantidade de pessoas atendidas, tornando o serviço acessível para um público ainda maior.
Os dispositivos alfanuméricos, que transmitiam mais informações que os antecessores, combinados às novas melhorias nas telas, contribuíram para uma popularidade ainda maior. Pagers da BlackBerry com teclado, permitindo responder às mensagens no próprio aparelho, foram outro avanço, na década de 1990.
Como funciona o pager?
![Os pagers eram usados presos na cintura, antigamente. (Imagem: Getty Images/Reprodução)](https://tm.ibxk.com.br/2024/12/31/31165808957006.jpg?ims=328x)
O funcionamento dos pagers pode parecer antiquado diante das facilidades que temos hoje em dia. Para mandar a mensagem a um desses dispositivos, é necessário ligar para uma central de envio, informar o código do pager e digitar ou ditar o texto.
A mensagem é codificada pela central e transmitida ao pager que corresponde a aquele número, via ondas de rádio. Ao recebê-la, o equipamento emite um bipe ou alerta vibratório, notificando o usuário. A mensagem recebida varia conforme o tipo de dispositivo do destinatário.
Ela pode conter uma sequência numérica, como um número de telefone para o qual a pessoa deve ligar de volta, ou alfanumérica, trazendo mensagens de texto com letras e números. Nos modelos bidirecionais, o destinatário consegue enviar a resposta pelo próprio aparelho.
O sistema precisa de torres de rádio para funcionar. Dessa forma, o alcance depende da quantidade e da potência das antenas que integram a rede, podendo haver dificuldade para o funcionamento em determinadas regiões, como nas áreas rurais.
O que motivou o declínio dos pagers?
![Os bipes perderam espaço para os celulares. (Imagem: Getty Images/Reprodução)](https://tm.ibxk.com.br/2024/12/31/31170010801008.jpg?ims=328x)
Os pagers ganharam força como uma alternativa barata aos celulares, que tinham o acesso restrito em seus primeiros anos devido aos preços elevados. Mas a situação se inverteu com o passar do tempo, à medida que os telefones móveis se barateavam e ofereciam muito mais recursos.
Ligar e receber chamadas em movimento e enviar mensagens de texto sem depender de outros procedimentos foram algumas das vantagens que fizeram os usuários trocarem os pagers pelos celulares. Além disso, a internet móvel se tornou cada vez mais rápida, facilitando a comunicação online em qualquer lugar.
Em meados dos anos 2000, algumas das principais fabricantes já haviam abandonado o segmento, e com a chegada dos smartphones, a seguir, o declínio estava mais do que confirmado. Assim, eles perderam de vez o lugar como dispositivo móvel preferido de todas as faixas etárias.
Muitas empresas que fabricavam os bipes e forneciam o serviço passaram por grandes reestruturações nos anos seguintes. Um dos principais nomes do setor, a Motorola ganhou duas divisões, com a área destinada aos celulares sendo vendida para o Google, inicialmente, e depois para a Lenovo.
Quem ainda usa pagers?
![Os pagers ainda são utilizados por alguns médicos. (Imagem: Getty Images/Reprodução)](https://tm.ibxk.com.br/2024/12/31/31170052236009.jpg?ims=328x)
Embora os smartphones ofereçam uma série de vantagens, os bipes têm seus diferenciais para nichos específicos. Eles podem alcançar locais onde o sinal do celular ou o Wi-Fi fica indisponível, por exemplo, como no interior de hospitais ou áreas remotas.
Além disso, são uma solução mais barata e com maior autonomia. Outros benefícios são a confiabilidade do serviço, que raramente sofre congestionamentos como as redes de celulares, e a possibilidade de evitar rastreamentos, pois os equipamentos não possuem GPS nem Bluetooth.
Tais características estão entre os motivos pelos quais o Hezbollah utiliza os pagers citados no início do texto. Com eles, a organização política e paramilitar evita ser rastreada por Israel, mas há rumores de que os equipamentos teriam sido adulterados, com a implantação de carga explosiva e interruptor para detonação remota.
Estima-se que 2 milhões de pessoas usavam pagers em 2024, com o serviço continuando a ter popularidade em equipes de hospitais, serviços de emergência e operações de busca e resgate. Até 2019, o serviço de saúde público britânico tinha mais de 100 mil bipes em funcionamento.
Apesar de as grandes marcas de pagers dos anos 1990 não produzirem mais os dispositivos, há outras empresas que ainda investem no segmento. A maioria das fabricantes atuais está na China e em Taiwan, nos quais são produzidos diferentes variedades de bipes.
Uma delas é a taiwanesa Gold Apollo, marca que era usada pelas pessoas envolvidas nos incidentes no Líbano, com o modelo alvo dos ataques oferecendo mais de 80 dias de bateria e apresentando resistência à água. O mercado de pagers movimentou US$ 1,6 bilhão (R$ 9,4 bilhões na cotação atual) em 2023, segundo o The New York Times.
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