Como bem disse Douglas Adams, somos formas de vida baseadas em Carbono, com um interesse bastante restrito em relógio digitais. Ainda que esses relógios atualmente sejam ‘smart’. Fato é que a composição de tudo o que pode ser considerado vivo na Terra, possui traços do sexto elemento da tabela periódica.
Porém, a química da vida é muito mais complexa e sigilosa quando pensamos em sua gênese, resultado disso, temos diversas frentes de estudo tentando compreender quando, onde e em que situação os primeiros seres vivos deram, ou não, seu primeiro suspiro por aqui.
Conheça sobre como a vida pode ter se originado em uma evolução química e relembre outras teorias sobre como os primeiros seres vivos podem ter aparecido na Terra.
O que é vida?
A resposta sempre irá depender do ponto de vista em que você está analisando. Se você decidir que vida é sinônimo de existir, então, pedras e minerais estão vivos, pois eles existem.
Se formos um pouco mais criteriosos, e decidirmos que René Descartes está correto, então pensar é um pré-requisito para a existência. Então plantas podem estar fora da jogada. Portanto, vamos simplificar para atingir nosso objetivo, vamos olhar para a química da vida.

Um organismo vivo sempre irá possuir Carbono, que é um elemento orgânico fundamental para manutenção da vida por suas características estruturais que permitem ligações estáveis com outros elementos formando, longas cadeias que possibilitam a origem da arquitetura molecular dos seres vivos.
Contudo, todo esse complexo molecular formado pelo Carbono ligando-se a outros elementos pode não ser a garantia de vida.
Nesse ponto, precisamos incluir outros requisitos, como a presença de DNA, que pode ser repassado em diferentes formas de reprodução, a reprodutibilidade em si, a capacidade de metabolização, como o do oxigênio, fonte de alimentos e afins, e claro, esse organismo deve ser capaz de realizar todas essas ‘tarefas’ de forma autônoma.

Os vírus, por exemplo, mesmo apresentando material genético, não são considerados vivos, pois necessitam de outra célula, essa sim viva, para conseguir se reproduzir e manter-se estável.
O intrigante em toda essa organização é conseguir compreender como e quando passamos de apenas arranjos moleculares inertes para seres complexos capazes de realizar tudo isso.
De trapos velhos à Evolução Química
Para entender, ou tentar se aproximar do ponto onde tudo isso começou, os pesquisadores precisam voltar no tempo. Como a máquina temporal ainda não existe, a análise é realizada por meio de modelos experimentais e mentais, tentando retroceder ao ponto zero da vida.
Diante disso, algumas teorias já tentaram explicar como a vida poderia ter começado. Nos ritos sagrados de diferentes crenças, a Terra e a vida presente aqui tiveram uma divindade como responsável pelo dom da vida.

Contudo, se a Terra teve que misturar seus próprios ingredientes para gerar vida, as coisas podem ter sido bem diferentes. Ao invés de um organismo perfeito, a tentativa e erro pode ter sido o caminho milenar para o sucesso.
Para alguns pesquisadores, a vida pode ter se originado próxima de chaminés vulcânicas submarinas, onde os CHONPS, elementos fundamentais, estavam mais presentes.
Para outros, esses mesmos elementos: Carbono, Hidrogênio, Oxigênio, Nitrogênio, Fósforo e Enxofre, chegaram à Terra, ou foram produzidos posteriormente, através da queda de meteoros e encontros com asteroides em uma Era jovem do nosso planeta, quando as coisas ainda estavam muito quentes e disformes por aqui. Essa teoria possui o nome de Panspermia.
Fato é que em algum momento, em qualquer que seja a teoria criadora, os elementos fundamentais passaram a interagir. Com esse olhar, podemos discutir a química da vida sob o olhar da Evolução Química.

Segundo a Teoria da Evolução Química, em uma Terra jovem, os elementos aqui presentes foram expostos às mudanças de temperatura, radiação e eventos grandiosos como o da oxigenação. Além de possibilitar a conformação molecular, cada um desses eventos também atuou em prol de uma ‘seleção’ dos compostos mais resistentes.
Em estudo recente, observou-se que elementos expostos às oscilações de temperatura, simulando as Eras glaciais e de aquecimento do planeta, além da presença de água, oportunizaram arranjos moleculares bastante complexos, formando, novos compostos, e ao contrário do que se acreditava ser um ‘caos’ criador, na verdade, parece ser algo bem-ordenado e organizado.
Nessas misturas, ainda que de elementos inorgânicos, uma primeira molécula com características orgânicas pode ter se formado em toda sua exuberância. Se um arranjo foi possível naquele ambiente, outros podem ter se originado na mesma remessa.
Com o estímulo do ambiente, essas moléculas podem ter se unido, formando o primeiro complexo celular, a primeira bactéria, ainda anaeróbica, depois a primeira bactéria dependente de oxigênio, o primeiro ser pluricelular, e o resto é história e complexidade.
Mas cuidado, a teoria da Evolução Química não é similar à Abiogênese. Segundo essa teoria, refutada por Louis Pasteur, matéria inorgânica poderia ser fonte geradora de matéria orgânica. Em termos mais simples, sua pilha de roupas sujas, poderia um dia lhe dar um pet. Vai por mim, se isso acontecer, você não vai gostar.
A organização química, por outros lados, trata dos arranjos naturais entre os átomos dos elementos presentes na tabela periódica se arranjando e gerando novos elementos em conjunto com a evolução da Terra.
Todas as formas de vida possuem um nível tão intrincado de funcionamento que se você já teve contato com bioquímica, Ciclo de Krebs e a fundamentalidade do ATP para continuidade da vida neste planeta, sabe que a química se tornando biologia não é algo óbvio.
Por isso, se nosso planetinha teve que promover esses arranjos atômicos sozinho, não é de se surpreender que tenha levado tantos milênios até encontrar e conseguir manter um arranjo adequado para a tarefa. Mas se você prefere a versão simplista, nascemos de trapos velhos que o cosmos esqueceu por aqui.
Qual seu ‘mito criador’ preferido? Se você leu o Guia do Mochileiro das Galáxias, sabe que podemos ter nascido de um grande resfriado. Se quiser saber mais sobre a quanto tempo há vida por aqui, veja que os cálculos podem sofrer algumas modificações tornando-a mais antiga. Continue nos acompanhando e até mais!